Tuesday, August 09, 2011
Vale tudo por uma comparação: Lúcia Miguel-Pereira
Lúcia Miguel-Pereira, em seu prefácio ao livro Ensaístas Ingleses, brinda-nos com esse mimoso parágrafo:
"O adjetivo a que mais frequentemente se recorre para qualificar o inglês - excêntrico - significa, em seu sentido primitivo, um traço característico do ensaio que, sendo uma busca, não sofre a limitação do ponto de vista único, e não tem por isso, rigorosamente, um centro. O ensaísta escreve como o inglês viaja: pelo gosto da aventura, pelo prazer de descobrir novos horizontes."
Teria sido melhor se a autora tivesse ido ao dicionário dar uma olhada no que a palavra excêntrico significa realmente. Ter-lhe-ia evitado esse vexame. Excêntrico não significa desprovido de centro, mas sim com centro deslocado em relação a outro. Sua comparação com o inglês é totalmente ridícula, desse modo (e de qualquer modo). Uma pessoa excêntrica é alguém com hábitos peculiares, distantes dos hábitos da maioria. Não vejo, ademais, o que o tal "gosto da aventura" tem a ver com isso.
Quanto a esse volume de ensaios, é impossível saber quem o organizou, e se Lúcia Miguel-Pereira teve alguma parte nisso. É arriscado mesmo afirmar que ela tenha lido todos os ensaios, pois seus comentários nesse prefácio são um tanto enciclopédicos e genéricos. Veja, por exemplo, o trecho abaixo:
"A Carlyle liga-se também James Anthony Froude que, dominado na mocidade pela influência do cardeal Newman, se deixou depois empolgar pelo autoritário e puritano escocês, de quem foi, judicialmente, testamenteiro, mas intelectualmente herdeiro. Tinha alguma coisa do ímpeto furibundo do mestre -- cuja figura foi entretanto acusado de deformar, em polémica famosa -- e, seguindo-lhe o exemplo, interpretou a história, na qual se especializou, de modo idealista, como fonte sobretudo de ensinamentos morais. O ensaio com que aqui comparece, excelente e sempre oportuno, mostra-o todavia muito vivo e ágil, melhor dotado para o género do que o seu tão admirado amigo."
Supõe-se que ela se refere ao ensaio "Influência Literária das Academias", que o volume em questão inclui sob o nome de Froude. O problema, no entanto, é que o referido ensaio não é da autoria de James Anthony Froude; ele na verdade foi escrito por Matthew Arnold. Não sendo possível concluir se o artigo a que a prefaciadora se refere é realmente esse ou algum outro realmente escrito por Froude, porventura excluído por erro de edição, fica duvidosa qualquer interpretação das afirmações da prefaciadora quanto à oportunidade do ensaio como uma defesa da Academia Brasileira de Letras enquanto instituição essencial à vida literária de nosso país. Não vamos acusá-la dessa tolice, portanto.
"O adjetivo a que mais frequentemente se recorre para qualificar o inglês - excêntrico - significa, em seu sentido primitivo, um traço característico do ensaio que, sendo uma busca, não sofre a limitação do ponto de vista único, e não tem por isso, rigorosamente, um centro. O ensaísta escreve como o inglês viaja: pelo gosto da aventura, pelo prazer de descobrir novos horizontes."
Teria sido melhor se a autora tivesse ido ao dicionário dar uma olhada no que a palavra excêntrico significa realmente. Ter-lhe-ia evitado esse vexame. Excêntrico não significa desprovido de centro, mas sim com centro deslocado em relação a outro. Sua comparação com o inglês é totalmente ridícula, desse modo (e de qualquer modo). Uma pessoa excêntrica é alguém com hábitos peculiares, distantes dos hábitos da maioria. Não vejo, ademais, o que o tal "gosto da aventura" tem a ver com isso.
Quanto a esse volume de ensaios, é impossível saber quem o organizou, e se Lúcia Miguel-Pereira teve alguma parte nisso. É arriscado mesmo afirmar que ela tenha lido todos os ensaios, pois seus comentários nesse prefácio são um tanto enciclopédicos e genéricos. Veja, por exemplo, o trecho abaixo:
"A Carlyle liga-se também James Anthony Froude que, dominado na mocidade pela influência do cardeal Newman, se deixou depois empolgar pelo autoritário e puritano escocês, de quem foi, judicialmente, testamenteiro, mas intelectualmente herdeiro. Tinha alguma coisa do ímpeto furibundo do mestre -- cuja figura foi entretanto acusado de deformar, em polémica famosa -- e, seguindo-lhe o exemplo, interpretou a história, na qual se especializou, de modo idealista, como fonte sobretudo de ensinamentos morais. O ensaio com que aqui comparece, excelente e sempre oportuno, mostra-o todavia muito vivo e ágil, melhor dotado para o género do que o seu tão admirado amigo."
Supõe-se que ela se refere ao ensaio "Influência Literária das Academias", que o volume em questão inclui sob o nome de Froude. O problema, no entanto, é que o referido ensaio não é da autoria de James Anthony Froude; ele na verdade foi escrito por Matthew Arnold. Não sendo possível concluir se o artigo a que a prefaciadora se refere é realmente esse ou algum outro realmente escrito por Froude, porventura excluído por erro de edição, fica duvidosa qualquer interpretação das afirmações da prefaciadora quanto à oportunidade do ensaio como uma defesa da Academia Brasileira de Letras enquanto instituição essencial à vida literária de nosso país. Não vamos acusá-la dessa tolice, portanto.
Da incapacidade de entender um texto: José Paulo Paes
No ensaio "Um aprendiz de morto", José Paulo Paes brinda-nos com o seguinte parágrafo:
"Desde Esaú e Jacó sabia-se que o Conselheiro deixaria após a morte, como seu legado principal, sete cadernos manuscritos, em seis dos quais falava mais de si que dos outros; no sétimo, por ele mesmo chamado Último, fazia exatamente o contrário. Desses sete cadernos, houve por bem M. de A. (iniciais com que Machado assina, como uma espécie de editor, a "Advertência" do Memorial, e que curiosamente são as mesmas do título do livro) só imprimir o Último, aquele em que o Conselheiro menos falava de si. A justificativa era a de ser esta parte a única capaz de, "decotada de algumas circunstâncias, anedotas, descrições e reflexões", dar "uma narração seguida", virtude que, para um romancista de profissão, certamente sobrelevaria quaisquer outras. Entretanto, a intervenção do editor parece ter-se limitado aos cortes; em nada mais interviria ele no manuscrito do Conselheiro, conservando-lhe inclusive a forma de diário, de anotações soltas encimadas por datas e ordenadas cronologicamente."
Em primeiro lugar, de onde o autor tirou a ideia de que "em seis [...] falava mais de si que dos outros; no sétimo, por ele mesmo chamado Último, fazia exatamente o contrário"? Em segundo, e mais grave, o tal Último foi impresso com o nome de Esaú e Jacó. Não fazia parte do Memorial. Os que foram "decotados", etc., foram os seis primeiros, e se transformaram no livro Memorial de Aires.
"Desde Esaú e Jacó sabia-se que o Conselheiro deixaria após a morte, como seu legado principal, sete cadernos manuscritos, em seis dos quais falava mais de si que dos outros; no sétimo, por ele mesmo chamado Último, fazia exatamente o contrário. Desses sete cadernos, houve por bem M. de A. (iniciais com que Machado assina, como uma espécie de editor, a "Advertência" do Memorial, e que curiosamente são as mesmas do título do livro) só imprimir o Último, aquele em que o Conselheiro menos falava de si. A justificativa era a de ser esta parte a única capaz de, "decotada de algumas circunstâncias, anedotas, descrições e reflexões", dar "uma narração seguida", virtude que, para um romancista de profissão, certamente sobrelevaria quaisquer outras. Entretanto, a intervenção do editor parece ter-se limitado aos cortes; em nada mais interviria ele no manuscrito do Conselheiro, conservando-lhe inclusive a forma de diário, de anotações soltas encimadas por datas e ordenadas cronologicamente."
Em primeiro lugar, de onde o autor tirou a ideia de que "em seis [...] falava mais de si que dos outros; no sétimo, por ele mesmo chamado Último, fazia exatamente o contrário"? Em segundo, e mais grave, o tal Último foi impresso com o nome de Esaú e Jacó. Não fazia parte do Memorial. Os que foram "decotados", etc., foram os seis primeiros, e se transformaram no livro Memorial de Aires.
Sunday, August 07, 2011
Francisco Pinheiro Guimarães
Da Enciclopédia Delta Larousse, edição de 1972:
Guimarães (Francisco Pinheiro), médico brasileiro (Rio de Janeiro GB 1832 - id. 1877). Doutor em medicina pela Faculdade Nacional de Medicina. Catedrático de fisiologia (1870) da mesma escola. Entrou na guerra do Paraguai como voluntário e foi ferido na batalha de Tuiuti. Deputado à câmara nacional e membro da Academia Nacional de Medicina (1863). Homem de cultura polimorfa, além de trabalhos sobre medicina (Funções do fígado [1859] e Sobre epilepsia [1859]), escreveu dramas (História de uma moça rica [1861]) e o romance O Comendador (1856).
Guimarães (Francisco Pinheiro), médico brasileiro (Rio de Janeiro GB 1832 - id. 1877). Doutor em medicina pela Faculdade Nacional de Medicina. Catedrático de fisiologia (1870) da mesma escola. Entrou na guerra do Paraguai como voluntário e foi ferido na batalha de Tuiuti. Deputado à câmara nacional e membro da Academia Nacional de Medicina (1863). Homem de cultura polimorfa, além de trabalhos sobre medicina (Funções do fígado [1859] e Sobre epilepsia [1859]), escreveu dramas (História de uma moça rica [1861]) e o romance O Comendador (1856).