Thursday, April 14, 2011

 

A Teoria contra a Literatura: instantâneos de uma guerra em andamento

[Escrevi isto como trabalho final de um curso ministrado pelo prof. Fábio A. Durão (Unicamp). Embora suas aulas tenham sido valiosas para a elaboração do texto abaixo, a responsabilidade pelo mesmo é exclusivamente minha.]

Efetua-se neste trabalho uma exploração motivada por alguns conceitos-chave da chamada Teoria, especialmente em suas variantes feminista e "queer". Inicialmente deter-se-á sobre algumas formulações de textos feministas, explicitando suas origens pós-estruturalistas e desconstrucionistas. Tomar-se-á como ponto de partida algumas afirmações de Eve Kosofsky Sedgwick, que servirão para iluminar (e problematizar) formulações correlatas de Susan Bordo e Jane Tompkins. Em seguida, partir-se-á de algumas ideias de Barthes e explorar-se-á sua relevância para o trabalho de Sedgwick. Entre outras coisas, interessa aqui examinar como as releituras que a "queer theory" propõe-se fazer de obras literárias ditas clássicas relacionam-se com o conceito de leitura proposto por Barthes, o qual gera a entidade que ele chama de 'texto'. Em seguida, o trabalho deter-se-á no último parágrafo de "Da Obra ao Texto" , na tentativa de vislumbrar nele a agenda última de Barthes. O último autor analisado é Barbara Herrnstein Smith; tentar-se-á evidenciar como de certa forma ela encarna de maneira explícita a postura da Teoria a respeito da Arte e da Literatura. Por fim, extrapolar-se-á da maneira mais ampla possível as consequências da Teoria para fenômenos crítico-universitários contemporâneos e futuros e para a Arte e a Literatura.

Feminismo e desconstrução
Um dos conceitos-chave do estruturalismo é o de oposição binária, que deriva do trabalho de Saussurre em linguística. Usado por Lévi-Strauss para caracterizar a estrutura dos mitos, foi empregado de forma análoga por teóricos da narrativa literária. Uma oposição binária estabelece duas entidades (por exemplo, em uma narrativa, podem ser dois personagens, um dos quais é o herói e o outro é o vilão, ou duas ações entre as quais um personagem deve escolher) que são mutuamente excludentes e que exaurem o universo de possibilidades. A atribuição de papéis sociais aos respectivos gêneros humanos (macho, fêmea) obedece um sistema de oposições binárias; desse modo, constrói-se uma oposição masculino/feminino que é associada a oposições do tipo ativo/passivo, forte/fraco, racional/emotivo, e assim por diante. As ficções incorporam esse modo de ver os gêneros (genders), respondendo à ideologia de seu tempo e lugar.
A partir do final dos anos 60, muitos pensadores tornaram-se progressivamente mais críticos em relação ao estruturalismo. Michel Foucault descreve a supramencionada binarização de papéis sociais como um sistema de poder distribuído, em que categorias são construídas como camisas de força mentais em que os seres humanos são forçados a se encaixar. Jacques Derrida, que foi aluno de Foucault, chama a atenção para uma assimetria permanente entre os polos de uma oposição binária. Um desses polos tem sempre a precedência e impõe-se como uma referência hierarquicamente superior a partir da qual o polo oposto é necessariamente definido. Derrida trabalha com textos, e o procedimento de desmascarar nos mesmos as assimetrias supramencionadas foi batizado como 'desconstrução'.
O movimento feminista e, numa etapa posterior, o movimento 'queer' encontraram nos trabalhos desses dois autores valiosas ferramentas para desenvolver suas respectivas teorias. Em "Epistemology of the Closet", de Eve Kosofsky Sedgwick, há um parágrafo que de certa forma sintetiza a relação de um certo feminismo com sua matriz pós-estruturalista:
"The second and perhaps even greater heuristic leap of feminism has been the recognition that categories of gender and, hence, oppressions of gender can have a structuring force for nodes of thought, for axes of cultural discrimination, whose thematic subject isn't explicitly gendered at all. Through a series of developments structured by the deconstructive understandings and procedures sketched above, we have now learned as feminist readers that dichotomies in a given text of culture as opposed to nature, public as opposed to private, mind as opposed to body, activity as opposed to passivity, etc. etc., are, under particular pressures of culture and history , likely places to look for implicit allegories of the relations of men to women; more, that to fail to analyze such nominally ungendered constructs in gender terms can itself be a gravely tendentious move in the gender politics of reading. This has given us ways to ask the question of gender about texts even where the culturally "marked" gender (female) is not present as either author or thematic."
É interessante questionar a consistência dos textos feministas em permanecer fora das binarizações que eles mesmos dizem denunciar. Tomemos dois excertos de Susan Bordo extraídos de seu livro "Unbearable Weight: Feminism, Western Culture, and the Body", e examinemos dois excertos do mesmo:
"In newspapers and magazines we daily encounter stories that promote traditional gender relations and prey on anxieties about change: stories about latch-key children, abuse in day-care centers, the "new woman's" troubles with men, her lack of marriageability, and so on."
"On the other hand, even as young women today continue to be taught traditionally "feminine" virtues, to the degree that the professional arena is open to them they must also learn to embody the "masculine" language and values of that arena – self-control, determination, cool, emotional discipline, mastery, and so on."
No primeiro trecho, Bordo denuncia a veiculação de uma certa ideologia que se apoia em certas noções do que é próprio à mulher, as quais não veem com bons olhos a participação da mesma no mercado de trabalho em posições que tradicionalmente eram vistas como exclusivamente masculinas. No segundo trecho (e em sua continuação), Bordo atribui a causa das patologias anoréxicas à incorporação pela mulher de mensagens contraditórias que, por um lado, exigem dela um certo padrão de aparência associado à feminilidade, e, por outro, a incitam a desenvolver características como a auto-suficiência e o controle emocional que, tradicionalmente, eram consideradas eminentemente masculinas. Esses dois trechos parecem irreconciliáveis, uma vez que no segundo trecho Bordo parece dar razão ao que no primeiro ela criticara, a saber, a noção de que as atividades e temperamentos tradicionalmente femininos são incompatíveis com as atividades e temperamentos tradicionalmente masculinos. Se a coerência com os princípios explicitados no trecho de Sedgwick citado acima deve ser mantida, a polarização entre "atividades masculinas" e "atividades femininas" deve ser abolida (como?); a pergunta que cabe aqui é: é a ideologia hegemônica que está impondo mensagens contraditórias (derivadas de oposições binárias que ela própria criou) às jovens anoréxicas, ou é a própria Bordo que está sobrepondo uma visão polarizada sobre mensagens que em si nada têm de contraditórias? O texto não fornece uma justificativa suficientemente sólida de que a primeira hipótese é a verdadeira, e não a segunda. Seria interessante saber o que Bordo pensa de desenvolvimentos sociais, posteriores à publicação de seu livro, relacionados à anorexia, tais como expostos no filme The Truth about Online Anorexia, que mostra como as anoréxicas, organizadas em grupos de suporte, reivindicam o direito a seus hábitos, e até investem-no de conteúdo político.
Para citar um outro exemplo problemático, considere-se os trechos seguintes de "Me and My Shadow", de Jane Tompkins:
"Well, I'm tired of the conventions that keep discussions of epistemology or James Joyce, segregated from meditations on what is happening outside my window or inside my heart."
"Because women in our culture are not simply encouraged but required to be the bearers of emotion, which men are culturally conditioned to repress, an epistemology which excludes emotions from the process of attaining knowledge radically undercuts women's epistemic authority."
O artigo em questão é quase integralmente problemático (é tentador considerá-lo como uma paródia, mas nesse caso ele seria claramente detrimental à causa feminista), mas de qualquer modo é interessante realçar o problema específico dos trechos em questão, pois ele tem alguma relação com alguns problemas que encontráramos no texto de Bordo, e pode assim constituir um problema recorrente em textos feministas. O segundo excerto citado tece considerações sobre o condicionamento feminino à emocionalidade, o qual desqualificaria epistemicamente a mulher. O primeiro excerto reivindica o direito à emocionalidade, melhor dizendo, o direito ao exercício dessa emocionalidade [a qual seria fruto, lembre-se, de um condicionamento ideológico falocêntrico] em campos de onde ela estaria excluída a priori. Em que pese a rudeza da comparação, é como se um jogador de futebol reivindicasse mudanças nas regras do jogo para adaptá-lo a pernetas, alegando que teve uma perna mutilada por adversários. É isso o feminismo?

A teoria 'queer'
Os postulados de Barthes e Foucault mencionados nas seções precedentes caem como luvas nos anseios crescentes de minorias que se veem excluídas de todo o universo cultural dominante, voltado como este é para situações ou moralidades ou estéticas onde as referidas minorias não têm vez, ou então são retratadas como indesejáveis. Pensa-se aqui principalmente em minorias sexuais e raciais. Minorias econômicas já têm na década de 60 algum espaço nas produções ficcionais e poéticas, embora possa-se dizer que seu discurso seja muitas vezes submergido ou contaminado pelos discursos endossados por agentes do poder econômico. No caso específico de minorias sexuais ou de gênero, as ideias de categorias, comportamentos e identidades construídas socialmente que Foucault postula são particularmente produtivas, informando o feminismo e a teoria "queer" (palavra que significa, literalmente, "esquisito", e que aqui refere-se ao termo pejorativo dado ao homossexual na gíria dos Estados Unidos).
O que chama atenção nesse fenômeno é que a produção intelectual militante deixa de ser exclusividade dos Departamentos de Sociologia e Política das Universidades, e boa parte dela passa a provir dos Departamentos de Inglês ou Literatura, os quais, dessa maneira, deixam de encarar exclusivamente a Literatura como seu objeto último. Para muitos de seus membros, a Literatura passa a ser vista como um meio para um fim, como um trampolim através do qual deseja-se atingir alvos políticos ou antropológicos ou sociológicos ou históricos.
A teoria que nos Estados Unidos denomina-se 'queer' tem sua maior representante em Eve Kosofsky Sedgwick. A premissa de Sedgwick é basicamente a de que existe uma repressão operante em relação a formas de sexualidade diferentes da prática heterossexual, e essa repressão expressa-se não necessariamente por leis coibitivas, mas por hábitos culturais arraigados que visam a 'exorcizar' práticas tidas como desviantes na vida social de uma comunidade. Isso afetaria inclusive os produtos culturais, a literatura entre eles. Sedgwick explicita a maneira pela qual a homofobia torna-se uma peça integrante do jogo social, uma tática de defesa que garantiria a 'pureza' da comunidade contra comportamentos indesejáveis. Em consonância com os postulados de Foucault, ela indica como o indivíduo aprende em sociedade como deve comportar-se de acordo com seu gênero, construindo assim sua identidade como 'homem' ou 'mulher' (ambos necessariamente heterossexuais). A literatura, segundo ela, joga esse jogo, endossando certos comportamentos e excluindo outros. Esse ato de exclusão, no entanto, deixa rastros no texto, e seria tarefa do crítico localizar esses rastros e reconstruir as variedades comportamentais censuradas.
Sedgwick chama a atenção para um mecanismo estruturante específico em narrativas, a saber, a inserção, junto a dois personagens de mesmo sexo, de um terceiro personagem de sexo oposto, o qual, relacionando-se sexualmente com um ou ambos, age de forma a dessexualizar a relação entre estes. É interessante notar que, através, de uma seleção ad hoc de textos literários, cada visão de mundo encontra para si a perfeita justificação. Considere-se por exemplo como um autor como René Girard, partindo de seu próprio universo de autores -- um dos quais, inclusive, em comum com Sedgwick (Marcel Proust) – e analisando igualmente relacionamentos humanos triangulares, chega a conclusões algo diferentes das de Sedgwick sobre o funcionamento do mundo. Para Sedgwick, a inserção de um terceiro elemento em uma relação serve para mascarar ou reprimir um componente homossexual. Girard, por sua vez, reputa que o desejo humano não é em sua essência direcionado ao seu objeto ostensivo; existe sempre um objeto intermediário que em alguns casos é um modelo e em outros um rival, e que seria o verdadeiro móvel do desejo. Girard, no entanto, ao contrário de Sedgwick, sustenta que o sexo não é o componente único ou mesmo principal do desejo humano. Em alguns casos exacerbados apenas, o "intermediário" é objeto de um sentimento tão intenso que esse sentimento converte-se em um desejo homossexual.
Deve-se chamar a atenção, no entanto, a uma certa postura da teoria "queer", e que consiste em devotar atenção apenas a autores consagrados do passado. Dessa maneira, Sedgwick beneficia-se da fama e alto prestígio de que esses autores gozam, ao mesmo tempo em que os antagoniza ou os pretende desmistificar. Pode-se argumentar que, por essa lógica, quanto mais reconhecido um autor, maior é a chance de que ele venha a ser vilipendiado.
Um caso emblemático é o de Henry James, ao qual Sedgwick dedica um capítulo inteiro de seu livro supracitado. Nele, ela afirma que "The Beast in the Jungle" ("A Fera na Selva") é a expressão de um 'pânico homossexual' . Sedgwick volta a falar de James em outros livros, o que é significativo e mereceria talvez uma investigação mais profunda.
Não é possível desconsiderar sumariamente a observação de Sedgwick, devido a um fato perturbador e intrigante: Henry James tem sido alvo de comentários remetendo à sua sexualidade feitos por autores suficientemente distantes culturalmente entre si para autorizar a suspeita de que esses comentários tenham sido produzidos de maneira independente entre si. O mais bem humorado desses comentários foi feito em uma passagem de um romance do inglês Will Self, seguindo-se à descrição (que não corresponde exatamente ao testemunho do próprio James) de um acidente que Henry James afirmou ter sofrido enquanto trabalhava como bombeiro voluntário, o qual supostamente deixou-o impotente (e genitalmente mutilado, segundo algumas interpretações):
"[Seu irmão] Sabia também que, a partir dali, tudo o que poderíamos esperar era por uma série de romances, diversos calhamaços substitutos do pênis. Uma vez que não poderia mais foder quem quer que seja, resolveu nos foder a todos com suas sentenças-serpentinas desenrolando-se em nossas mentes como ideias turgescentes."
A terceira referência a James vem do romancista Vladimir Nabokov, que, em uma carta a Edmund Wilson sobre o romancista William Faulkner, perguntava: "Maybe you are just pulling my leg when you advise me to read him, or impotent Henry James, or the Rev. Eliot?”" .
Todos esses exemplos servem como um belo estudo de caso para a teoria da recepção. Talvez eles digam algo sobre Sedgwick, Self, e Nabokov. Mas dizem provavelmente mais sobre o pronunciado impacto que James tem sobre os mais diversos tipos de leitores, o que faz supor que existe algo de grande e único em sua literatura.

Foucault, Barthes, o texto, Sedgwick
O distanciamento que muitos pensadores tomaram do estruturalismo a partir do fim dos anos 60 dá-se por motivos que não têm propriamente a ver com a adequação de seus conceitos e estratégias aos campos de estudo aos quais eles eram até então aplicados, mas por uma atração por escritas militantes em várias esferas, às quais o estruturalismo não se adapta bem. A famosa frase de Marx ("Não se trata mais de descrever a sociedade, mas de mudá-la"), mais uma vez tornou-se o lema dos intelectuais, só que desta vez equipados com táticas e alvos prioritários distintos, em alguns casos, do marxismo. Genericamente denominados 'pós-estruturalistas', e ainda utilizando alguma terminologia herdada de seus antecessores estruturalistas, estes intelectuais procuravam, cada um a seu modo, perturbar e desestabilizar o modo como os franceses (e depois, o mundo) se organizavam mental, social, e culturalmente. Michel Foucault postula uma ideia de poder não-localizado, o qual permeia todas as esferas sociais e insere-se em todas as relações pessoais ou institucionais. Barthes faz coro a essa ideia, postulando em sua Aula inaugural no Collège de France que o poder é móvel e escorregadio: quando achamos que o "pegamos" ele já está em outro lugar. Para Barthes, a linguagem é o veículo por excelência por meio do qual o poder se exerce. Esse poder não é negativo ou proibitivo, mas positivo e construtivo; obriga a pessoas a dizer (e portanto fazer) certas coisas, de certas maneiras.
"A linguagem é fascista" (Barthes)
Ou, posto em outros termos:
"Se eles conseguem fazer com que você faça as perguntas erradas, eles não precisam se preocupar com as respostas." (Thomas Pynchon)
Barthes e Foucault foram influentes cada um à sua maneira. Foucault, de um lado, gritava que categorias tidas como naturais eram na verdade contruções sociais que podiam ser questionadas por quem se sentisse ameaçado ou diminuído por elas. De outro lado, Barthes propõe uma abordagem revolucionária da literatura, onde ao leitor seja dada liberdade total, cabendo ao escritor fazer literatura que satisfaça aos anseios lúdicos do leitor, abdicando de uma autoria fechada, excludente. (De um ponto de vista pragmático, no entanto, as manifestações reais de seu tipo ideal de literatura costumam ser ainda mais excludentes e elitistas que a tradicional.)
Uma pergunta que se põe naturalmente para quem leu os artigos de Barthes citados acima e a obra de Eve Sedgwick é: Qual é a relação que o procedimento efetuado por Sedgwick guarda com a chamada 'morte do autor' tal como proposta por Barthes, e com a sua noção de texto com suas infinitas leituras? Ao reinterpretar um texto de acordo com uma matriz sexual diferente, está-se exercendo o 'assassinato' do autor original, em favor do leitor-autor? Importa também aqui prestar atenção ao que pretende Sedgwick em especial, que é 'tirar do armário' obras já tidas como clássicas. Essa obras não satisfazem os requisitos integrais da definição bartheana do 'texto', mas ainda assim suportam alguma ação limitada do leitor (ver discussão em "S/Z", do próprio Barthes, especificamente o conceito de texto 'parcialmente escrevível'). Dessa forma, Sedgwick supostamente estaria neutralizando o caráter repressivo de certas obras, aplicando a elas uma leitura pretensamente libertadora. A análise de camadas ou conexões ocultas em uma obra literária possui em princípio um caráter lúdico e produtivo. No caso de Sedgwick, no entanto, essa ludicidade desaparece, pois sua agenda foi previamente estabelecida em termos de parâmetros sexualizantes de tipos específicos. De resto, é questionável a eficácia das táticas de Sedgwick para a causa anti-homofóbica. Mesmo no caso hipotético de que ela em alguma ocasião acerte na análise, qual é grande conclusão a que se chega? A de que a sociedade ocidental do século 19 e começo do século 20 eram homófobas. Grande novidade!
Portanto, a luta por uma sociedade não-repressora e não-discriminadora é mais produtiva se ela se atém ao presente. No campo da literatura, é razoável que autores literários deem vazão a temas que os toquem intimamente, produzindo romances, peças, filmes, memórias, o que seja. Possui-se liberdade suficiente nos dias de hoje para que isso aconteça. Já o que Sedgwick faz com autores mortos é reduzir a dimensão de suas obras, não aumentá-la.

O texto e seus desdobramentos
Cabe aqui tentar imaginar no que consistiria exatamente esse mítico texto bartheano cujo significado sempre escaparia, e cuja leitura consistiria numa "escrita" interminável. É razoável supor que esse é um conceito ideal, e portanto não alcançável em sua plenitude. O que se poderia atingir seriam maiores ou menores aproximações a esse ideal. O exemplo literário que talvez mais se aproxime desse conceito é o de Mallarmé; extrapolando para além dos domínios da literatura, poder-se-ia pensar em um filme como Mulholland Dr. (e outros de David Lynch) ou L'année dernière à Marienbad, com suas estruturas narrativas enigmáticas e suas imagens evocativas e perturbadoras, como exemplos de 'texto' cinemático. Ao fim, se Barthes propõe o texto como uma série infinita de adiamentos do significado, parece que a implicação necessária é que o próprio significado do conceito de 'texto' não é estabelecível de maneira fechada e definitiva. O último parágrafo de "Da obra ao texto" é elucidativo a esse respeito:
"These few propositions, inevitably, do not constitute the articulations of a Theory of the Text and this is not simply the result of the failings of the person here presenting them (...). It stems from the fact that a Theory of the Text cannot be satisfied by a metalinguistic exposition: the destruction of meta-language, or at least (...) its calling to doubt, is part of the theory itself: the discourse on the Text should itself be nothing other than text, research, textual activity, since the Text is that social space which leaves no language safe, outside, nor any subject of the enunciation in position as judge, master, analyst, confessor, decoder. The theory of the Text can coincide only with a practice of writing."
Se as coisas são assim como Barthes as observa (ou as deseja), algumas pessoas deviam começar a se preocupar, pois ele está de certa forma preconizando uma extinção da separação entre arte e teoria, já que, se ambas devem obedecer às mesmas diretrizes formais (ou à ausência destas), o melhor modo de teorizar sobre a arte ou criticá-la deve ser com a própria arte. O artista seria dessa maneira o melhor (o único!) crítico admissível de outro artista (e de si mesmo, naturalmente). Essa ideia mereceria uma análise mais cuidadosa que não cabe aqui, bastando que citemos dois exemplos que parecem concretizá-la, a saber, grande parte das obras de Jorge Luis Borges e de Jean-Luc Godard ). O próprio Barthes declarou, posteriormente à publicação dos artigos citados, querer encaminhar-se a uma escrita mais literária.
Paradoxalmente, algumas correntes críticas contemporâneas efetuam uma inversão ou perversão da situação idealizada por Barthes e descrita no parágrafo anterior: ao instaurar a supremacia do significante no objeto de seus estudos, a crítica reivindica para si o monopólio da produção do sentido. Dessa maneira, sua situação em relação à arte, originalmente secundária, evoluiu para uma de animosidade e desejo de dominação. A figura do crítico de outrora, aquele ser temível que destruía carreiras, tinha no entanto uma modéstia essencial que era a de reconhecer a superioridade do elemento estético e pautar-se em seu julgamento por ele. Esse crítico foi substituído nos dias de hoje pelo "teórico", o qual posiciona-se não como inimigo deste ou daquele autor, mas da literatura como um todo. O termo "inimigo" parecerá forte demais a alguns, mas é certo que esses teóricos não se caracterizam como amantes da literatura. Em alguns casos, substitui-se a literatura como objeto de estudo por outras formas de produção cultural (cinema, quadrinhos, jogos de computador), ou pela "textualização" do corpo , e até de objetos tecnológicos . Mas o essencial é que a relação desses teóricos com a literatura ou com seus sucedâneos culturais consiste primariamente no uso destes como exemplo de alguma codificação ideológica. Para eles o estético desapareceu do menu.
Em alguns teóricos nota-se claramente uma aproximação estilística e discursiva do literário, deixando entrever uma intenção de fusão entre crítica/literatura (que concluiu-se acima ser uma das possíveis consequências do advento do "texto"). Essa fusão entretanto nunca é perfeita, e notam-se conflitos internos no discurso. Um exemplo disso é o supracitado artigo "Me and My Shadow", de Jane Tompkins. Nele Tompkins flerta abertamente com o confessional, o memorialístico, e até mesmo o bucólico, mas tudo isso é entremeado com discurso argumentativo; ao final, não se sabe muito bem qual é o estilo e nem o ponto do artigo.
Podemos arriscar a generalização: não existe pulo sem rede no discurso crítico, ou seja, toda pretensa revolução é um simulacro de revolução. Para uma confirmação dessa afirmação, tomemos um caso talvez mais difícil de classificar: o supracitado artigo "A Manifesto for Cyborgs", de Donna Haraway. Não se pretende aqui analisar o artigo na íntegra, pois ele aborda vários subtemas que não concernem diretamente à discussão presente. Primeiramente, vale uma olhada na maneira pela qual ele se encaixa na tradição dos manifestos. Pense-se o manifesto comunista, ou os inúmeros manifestos de movimentos artísticos do século vinte (surrealista, dadaísta, futurista, etc.). Quanto o manifesto de Haraway se parece a eles? Bastará a análise da primeira frase:
"This essay is an effort to build an ironic political myth faithful to feminism, socialism, and materialism."
Já aqui os problemas aparecem. Uma declaração de ironia é uma contradição performativa , e já fornece a confirmação que queríamos de que "não existe pulo sem rede no discurso crítico, ou seja, toda pretensa revolução é um simulacro de revolução." Um discurso que contém um aviso a respeito de sua ironia pode ser fruto da extrema insegurança do autor acerca de suas próprias posições (ou falta delas); seu efeito, no entanto, é tornar ambígua a existência de ironia no restante do texto. Quanto ao "esforço" para "construir" um "mito", é algo que também desafia a razão. Em primeiro lugar, nenhum dos manifestos históricos citados acima (comunista, surrealista, etc.) classifica de antemão suas propostas como mitos. Isso equivaleria a destruir a força do manifesto (e do mito). Tudo bem se depois vier alguém e afirmar que um mito é precisamente o que eles estavam construindo. Mas isso é uma reação posterior (que pode ou não ser aceita). Para uma revolução, mitos declaradamente pré-fabricados não servem, mas para um simulacro de revolução, caem muito bem. A propósito, é interessante observar em que termos a "Norton Anthology of Theory and Criticism" defende o texto de Haraway (de certa forma dando assim sua justificativa para antologizá-lo):
"Haraway has been criticized for the exuberance with which she embraces the "monstrous" mixed identity of the cyborg, but her enthusiasm is usually qualified by sobering discussions of the various impacts of modern technoscience on our lives."
Ou seja, toda a capa "exótica" com a qual ela envolve o texto não é considerada importante; importantes seriam as discussões que se encontram mais ou menos submersas sobre a referida capa. Fora com a exuberância, viva a sobriedade. Dessa forma, vemos o quanto um teórico se beneficia de suas provocações, em termos de notoriedade; mas quanto, na hora de uma justificação de seus méritos, apela-se para seu suposto lado "normal", "tradicional", "sóbrio".
Pensando literariamente no artigo de Haraway, é lícito enxergar no estilo monocórdico, pontuado por repetições de algumas expressões-chave ["women of color", "socialist-feminism", "social relations of science and technology"], a emulação da hipotética escrita de um robô. (Haraway, misteriosamente, afirma que um cyborg "takes irony for granted" .)
Haraway cita uma quantidade grande de obras um tanto obscuras de ficção-científica, e outro tanto de obras teóricas, mas existem dois antecedentes do seu trabalho mais conhecidos, que ela não cita. A canção "Welcome to the Machine" da banda Pink Floyd (letra de Roger Waters), de 1975, trata de forma muito mais sucinta, e em tom decididamente irônico, e auto-referente (já que a banda faz parte do fenômeno), do controle da "máquina" sobre o indivíduo. Anteriores, em grande parte, ao artigo de Haraway (que é de 1985), alguns filmes (particularmente Videodrome (1983)) de David Cronenberg e algumas declarações suas em entrevistas, contêm um discurso parecido com o de Haraway. O diferencial de Haraway é que ela direciona, um tanto artificialmente, seu discurso ao feminismo.
Os textos de Haraway e de Tompkins possuem caráter perfeitamente ambíguo: não é possível decidir se há ou não ironia neles. No caso de Tompkins a ironia estaria vedada pois iria contra sua própria história de filiação ao feminismo (e a recepção do texto em questão tem-se caracterizado majoritariamente por tomá-lo pelo seu valor de face). No caso de Haraway, a ironia é neutralizada por ser anunciada, e também porque o texto do artigo é indistinguível de uma posição "integrada" , de quem abraça o mundo tecnológico como uma forma de escapar de sua dominação. Esse tipo de ambiguidade é produtiva num texto teórico? E num texto literário? Como estabelecer a fronteira entre os dois? A próxima seção analisará mais uma autora teórica, na esperança de lançar alguma luz nesta última questão.

A literatura vista de fora
O trabalho de Barbara Herrnstein Smith é interessante porque ilumina a face da Teoria, por assim dizer. Talvez ingenuamente, ela faz o que para alguns militantes é anátema: diz a que veio, com todas as letras. E isto consiste, nem mais nem menos, em negar a autonomia da Estética como disciplina. A Estética, segundo ela, é redutível ao que ela chama de Economia usando o termo num sentido amplo que engloba a Economia em sentido estrito, a Psicologia, a Sociologia, a Ciência Política, a Antropologia, a Linguística, e talvez outras. O ser humano, segundo a autora, lê livros e aprecia obras de arte em geral por razões não muito diferentes daquelas pelas quais ele come, faz sexo, se lava, trabalha, em suma, executa todas as atividades tradicionalmente consideradas não-estéticas. Partindo desse pressuposto, ela chega à conclusão de que as tradicionais hierarquias que fazem com que algumas obras sejam consideradas melhores que outras são totalmente contingentes e extrínsecas às obras em questão.
Prosseguindo em sua argumentação, afirma que obras que suportam a ideologia dominante têm grande chance de perpetuação, ao contrário das que contestam essa ideologia. A conclusão a que Herrnstein Smith chega, partindo de sua abolição da Estética, é a de que cânones servem a culturas específicas; segundo ela, infinitos cânones alternativos (ou a abolição de todos os cânones, e sua substituição por passatempos alternativos à literatura, como – pode-se imaginar - danças tribais ou concertos de death metal) são possíveis, e igualmente válidos.
Os postulados relativistas de Herrnstein Smith são interessantes porque colocam a nu a tendência hegemônica na academia estadunidense, que se caracteriza pelo relativismo cultural. Este é consequência inevitável de um certo modo de ver o mundo segundo o qual este consiste num conflito incessante entre tudo e todos, e o poder é o denominador comum de todas as relações humanas em que ele consegue se inserir (cf. Barthes: "A língua é fascista."). Nenhuma atividade econômica, cultural, artística, ou sexual seria, segundo essa visão, dissociável da política, que para ela é sempre uma política de grupo, partidária.
Cumpre então investigar uma questão cuja resposta é algo complexa, a saber, se seria aceitável o fato de Herrnstein Smith colocar-se à parte do universo sobre o qual ela emite seu julgamento. Bancando o "advogado do diabo", poder-se-ia, em sua defesa, invocar sua condição externa à Arte: o teórico, o filósofo, o historiador, o cientista, etc. encontram-se fora do campo artístico e, ao contrário dos que pertencem a esse campo, têm como propósito único a verdade. O julgamento de Herrnstein Smith abrange apenas obras do campo artístico, as quais a princípio não estão preocupadas com a verdade, mas com algo que os artistas chamam "beleza".
Mas estaria um teórico livre dos interesses de classe, gênero, etc.? Segundo Marx, a ideologia perpassa mesmo obras pretensamente científicas. Sua análise do economista David Ricardo evidencia que ele tinha um ponto de vista burguês bem definido, que determinava em certa medida seu discurso. Marx deixa claro, no entanto que a obra de Ricardo é inestimável, desde que seus componentes ideológicos sejam explicitados e 'filtrados'. Analogamente, admite-se que Herrnstein Smith diz algumas coisas bem interessantes. Mas cabe investigar se suas conclusões não seriam também produto de contingências históricas, econômicas, (estéticas !), etc. A questão central então é: em se tratando de obras de arte, pode-se negar-lhes valor intrínseco apenas porque existe nelas um componente ideológico?
Não existe nenhuma razão objetiva para a eleição do campo estético como "problemático" ou para que se lhe recuse o direito de existência. Por que não dizer, por exemplo, que a Política não tem existência independente, não passando de um ramo da Estética? Assim, os regimes políticos seriam apenas uma expressão da procura pelo sistema mais belo de governo dos grupos humanos; a própria aparência física dos governantes seria um fator relevante (e sabemos que, nas eleições, ela é). Essa hipótese não é mais bizarra que a proposta por Herrnstein Smith.

Sumário e Conclusões
Adotando-se como divisor de águas o postulado bartheano do "texto", verifica-se na produção crítica contemporânea, em especial a norte-americana, uma tensão interna em que sobressai uma "inveja" de seu objeto, a literatura. Em alguns casos, isso traduz-se em um esforço no sentido de incorporar técnicas e procedimentos tradicionalmente literários; em outros, ou às vezes simultaneamente àqueles, procede-se a uma diminuição da literatura, seja abordando-a meramente com o fim de denunciar seu viés ideológico, seja substituindo-a como objeto de estudo por manifestações culturais "populares". Sedgwick especializa-se em "expor" a homossexualidade latente embutida em obras centenárias, em nome de uma militância de pose. Tompkins reclama uma reintegração com o memorialístico e o confessional, simultaneamente tomando firme posição pela não-tomada de posição. Haraway mitifica o cyborg com argumentação e estilo comparáveis ao que se esperaria de um deles.
Talvez o cerne da questão aqui seja: o modo de produção e recepção da Literatura continua sendo razoavelmente distinto daquele da Teoria. A Teoria (e parte da crítica) é bancada pelo circuito universitário, e seus profissionais possuem empregos fixos. Existe grande demanda por publicações e elas de certa forma possuem público cativo entre professores e estudantes universitários. Em arte, por outro lado, a insegurança prevalece. A publicação é incerta, o reconhecimento muito difícil. Por outro lado, quando se fala de literatura só o moderno – entendido aqui não como pertencente a um período, e sim como portador de uma atitude -- é grande. Levando-se em conta que a modernidade implica ousadia e um certo descaso com o mercado , ela não é viável para um teórico, o qual, apesar de ter um canal de expressão muito mais aberto que o artista, não pode correr o risco de não-assimilação, em vista de seus laços institucionais. O remédio para alguns é apelar para um simulacro de modernidade, uma provocação controlada, uma ironia anunciada, um "pulo com rede".
Talvez a influência do pensamento de Derrida tenha levado alguns acadêmicos a ver no próprio binômio Literatura-Teoria uma oposição binária em que inevitavelmente a segunda deva ressentir sua posição de inferioridade em relação à primeira. A mais nua e caricatural manifestação desse fenômeno parece ser o discurso de Barbara Herrnstein Smith, que vai às últimas consequências e postula a pura e simples aniquilação da Estética como disciplina independente. É claro que, se isso viesse a acontecer, não demoraria muito para a Teoria, por sua vez, perder totalmente sua função e se extinguir.

Referências
[Perdi a estrutura do documento origem, que tinha os marcadores para referências. Vão sem marcadores mesmo.]
1.BARTHES, Roland. From Work to Text. In LEITCH, Vincent B. (ed.). The Norton Anthology of Theory and Criticism. Norton, 2001, p. 1470-1475
2.In: LEITCH, Vincent B. (ed.), Op. Cit., p. 2443-2444.
3.In: ibid., p. 2363
4.In: ibid., p. 2368
5.In: ibid., p. 2131
6.In: ibid.
7.GIRARD, René. Mensonge romantique et vérité romanesque. Paris: Grasset, 1961
8.SEDGWICK, Eve Kosofsky. La bestia del armario: Henry James y la literatura del pánico homosexual. In: Epistemología del armario. p. 241-280. Barcelona: Ediciones de la tempestad, 1998.
9.SELF, Will. Cock & Bull. Tradução de Hamilton dos Santos. Geração Editorial, 1994.
10.citado em http://www.doppelgangermagazine.com/june/naben_ruthnum.html
11.BARTHES, Roland. Leçon.
12.PYNCHON, Thomas. O Arco-Íris da Gravidade. Tradução de Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 262.
13.cf. BARTHES, Roland. The Death of the Author. In LEITCH, Vincent B. (ed.), Op. Cit., p. 1466-1470
14.BARTHES, Roland. From Work to Text. In LEITCH, Vincent B. (ed.). Op. cit., p. 1475
15."I write essays in the form of novels, or novels in the form of essays. I'm still as much of a critic as I ever was during the time of 'Cahiers du Cinema.' The only difference is that instead of writing criticism, I now film it." "In order to criticize a movie, you have to make another movie." Citadas em http://akas.imdb.com/name/nm0000419/bio
16.BORDO, Susan. Op. Cit.; HEBDIGE, Dick. Subculture: The Meaning of Style. Fragmentos de ambas as obras aparecem em LEITCH, Vincent B. (ed.). Op. Cit., respectivamente p. 2362-2376 e p. 2448-2457.
17.HARAWAY, Donna. A Manifesto for Cyborgs: Science, Technology, and Socialist Feminism in the 1980s. In: LEITCH, Vincent B. (ed.). Op. cit., p. 2269-2299.
18.cf. AUSTIN, J.L. How to Do Things with Words. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1975.
19.LEITCH, Vincent B. (ed.). Op. cit., p. 2268
20.HARAWAY, Donna. Op. cit., p. 2298.
21.cf. ECO, Umberto. Apocalittici e integrati.
22.HERRNSTEIN SMITH, Barbara. Contingencies of Value. [Chapter 3 of the book of the same name.] In: LEITCH, Vincent B. (ed.). Op. cit., p. 1913-1932
23.cf. LÖWY, Michael. Paysages de la vérité. Introduction à une sociologie critique de la connaissance. [traduzido para o português com o título As Aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen.]
24.cf. DURÃO, Fábio Akcelrud. Teoria Norte-Americana: Ideias e Locais de Enunciação. Capítulo de livro a ser publicado.
25.cf. DE MAN, Paul. Poesia Lírica e Modernidade. In O Ponto de Vista da Cegueira. Tradução de Miguel Tamen. Lisboa: Angelus Novus & Cotovia, 1999. Título original do livro: Blindness and Insight.
26.cf. BOURDIEU, Pierre. O Mercado dos Bens Simbólicos. In: As Regras da Arte.

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