Friday, April 06, 2012

 

Sobre a quarta epígrafe de 'O Cortiço'

A epígrafe é de "La légende dorée", o romance é de Aluísio de Azevedo. Primeiramente, há que pensar no que é tradicionalmente esperado num pássaro: o canto puro, ao qual não se atribui significado; certamente não se espera o canto associado à oração ou ao louvor a Deus. O canto da ave é tradicionalmente associado exclusivamente a uma função estética, ou seja, à beleza. A oração, por outro lado, quer seja expressa em forma musical ou não, tem como função principal a comunicação com a divindade, e portanto, obedece a uma doutrina, e está mais perto de um dever do que um prazer. Há um paralelo com a situação literária tal como enfrentada pelo naturalismo enquanto escola. A literatura pré-naturalista ainda pertence à estética, à necessidade do belo. O naturalismo quer substituir essa visão da literatura por uma literatura como compromisso com a verdade, como denúncia social. A estética é posta em segundo plano. O pássaro literário não mais canta por cantar: louva ao deus naturalista, que é o fato, a "realidade". Coloca-se o autor do lado da ciência (a nova religião).

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