Thursday, September 17, 2015
A Consequência Lógica do Igualitarismo
Crescentemente em todo o mundo, a opinião pública se insurge contra todas as formas de discriminação pessoal. No nível mais trivial e correntemente hegemônico, postulam-se direitos iguais a todo indivíduo da espécie humana. A distinção de cidadanias ainda vale de jure, mas avoluma-se uma indisposição cultural à sua aplicação de facto. A operacionalização da sociedade com base em preceitos comuns válidos a todo ser humano torna-se rapidamente um consenso ideológico. Distinções interindividuais adquirem uma coloração inócua ou benigna, sujeita a mil e uma precauções normativas contra tensões críticas ou inquisitivas. Sua existência sai assim do terreno objetivo para o do construto que deve ser cuidadosamente instrumentalizado politicamente. Essa configuração hegemônica caracteriza-se por um dinamismo em que 'o que é' está constantemente a ceder lugar à vanguarda do que 'deve ser'. Os conceitos adquirem uma auto-pulsão expansionista que não mais se submete a referências categóricas delimitantes. Assim, por exemplo, a racionalidade subjacente ao conceito de igualdade ultrapassa seus escopos biológicos tradicionais da esfera humana. Cria-se o conceito de especismo, e com ele o campo dos direitos dos animais. Afigura-se portanto inevitável que esse escopo expanda-se num próximo estágio à inteligência artificial, de modo que não seja mais permissível a discriminação entre o ser biológico e o ser tecnológico. Um novo ramo do direito, o direito cibernético, viria a existir, garantindo a igualdade entre homem e máquina. Este é o admirável mundo novo, hoje em avançado estado de incubação sob a tutela de líderes e formadores de opinião.